sábado, 6 de dezembro de 2014

A primeira papinha a gente nunca esquece

Eu não sabia fritar um ovo antes de virar mãe. Às vezes arriscava uma omelete, que acabava em ovos mexidos por falta de habilidade. Arroz? Chamava a maçaroca final de “estilo japonês”. Feijão? Nem pensar.

Uma vez resolvi chamar os amigos para um fondue. Afinal, qual seria o segredo de derreter queijos que seriam comidos com pedacinhos de pão? Mas havia um. Misteriosamente todo o soro saiu, se misturou ao vinho e deixou uma massa dura e redonda de laticínio boiando no meio da panela. O foundilha, como foi chamado, foi comido fatiado, acompanhado de grandes pedaços de pão, e deixou um sabor de indigestão.

Com tamanho histórico de falência culinária, dá para imaginar o susto que levei quando ouvi da pediatra “Matias já pode começar a comer papinha.“

Papinha? Do tipo sopa? Mas não seria melhor continuar com o leite? Afinal, Matias tinha chegado aos 6 meses forte e saudável. Pra que mudar?

Era preciso. A pediatra me explicou que as necessidades de Matias já eram outras. Estava na hora de experimentar novos sabores. E na Ilha Maternália eu precisaria cozinhar.

Socorro.

Diante do desafio, fiz o que qualquer mulher madura, segura e confiante faria: liguei chorando para minha mãe. Ela me tranquilizou. Disse que o ato de alimentar o filho seria como uma extensão do aleitamento materno. Mas algo me dizia que Matias estava a um passo da desnutrição.

Corri para a Internet, a bíblia da culinária, em busca de receitas de papinhas para bebês. Para minha surpresa, a maioria era um pouco genérica em relação às quantidades dos ingredientes.

Peguei a receita mais detalhada que achei e fui para a cozinha. Tenho certeza que a cebola riu de mim enquanto eu chorava ao cortá-la. Piquei e refoguei o frango, adicionei a mandioquinha, os legumes e o espinafre, coloquei a água e fechei tudo na panela de pressão. Quarenta minutos depois havia uma massa escura grudada no fundo da panela, contendo os restos mortais dos alimentos.

Liguei indignada para uma amiga que me aconselhou: “Essas receitas de papinha nem sempre dão certo. Faça no olhômetro.”

Olhômetro? Era só o que me faltava.

Já era quase hora de Matias comer e eu não sabia se apelaria para o bom e velho leite ou se tentaria a papinha de novo. Foi quando olhei no fundo de uma gaveta e vi um avental verde, das Mammas da São Vito, aquelas cozinheiras italianas de mão cheia que fazem a alegria das festas no Brás. Pensei: “Agora que eu sou uma mamma, bem que eu poderia ter uma ajudinha de São Vito”. Assim, coloquei o avental e, empossada de uma confiança divina, pus de novo a mão na massa.



Não sei se foi sorte ou se milagres acontecem para mães de fé. Mas a segunda papinha ficou boa e Matias comeu um pratão de gente grande.


Nunca mais fui para a cozinha sem o avental verde das Mammas da São Vito. Não importa que ele tenha um caimento ruim. Nem que seus bolsos estejam furados.  O fato é que ele virou meu amuleto. Ou minha muleta.


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