“Tudo
o que você
fizer no primeiro dia do ano novo você continuará
fazendo pelo ano inteiro”,
profetizava a minha vó
Bel.
Por conta dessa crença, a virada do ano na minha infância era cheia de rituais. Meus pais
garantiam que eu arrumasse a cama e limpasse o quarto. Eu fazia questão de andar no balanço, nadar na piscina, andar de
bicicleta e, claro, assistir o máximo
possível
de televisão.
Se tudo acontecer como diz a crença, posso garantir que o ano nesta Ilha
Maternália
será
intenso. Ficamos acordados madrugada adentro e passeamos muito de carro.
Farra? Não.
Gandaia? Também
não.
Balada de reveillón?
Definitivamente não.
É
que Matias ficou doente bem às
vésperas
do ano novo.
Tudo começou
com um espirro depois do Natal. E outro. E mais outro. O que parecia ser uma
simples gripe se transformou em calvário.
Matias ficou muito congestionado. Parou de comer, de tomar leite,
e não
conseguia dormir. Então
veio a febre. O calor saariano desta época do ano não
ajudava em nada. Era impossível
baixar sua temperatura, mesmo com antitérmico e banho. Matias estava apenas de fralda e, ainda
assim, podíamos
fritar um ovo em sua testa.
Mesmo à
noite, os ventiladores só
serviam para circular o bafo quente do ar.
Matias chorava. Ele
precisava de um lugar fresco, ou com ar condicionado, para ajudá-lo a respirar. Ele precisava comer
algo, qualquer coisa. Ele precisava
dormir, nem que fosse sentado.
Diante de quadro tão desesperador, encontramos uma solução típica de pais de primeira viagem: saímos para uma volta de carro.
É
incrível
o poder que um carro pode ter para acalmar um bebê. Depois de algumas quadras, o choro passou. Matias bebeu um
pouco de água
e comeu algumas colheradas de uma papinha de frutas. Depois de quinze minutos, adormeceu
profundamente.
As ruas de São
Paulo estavam vazias. Eu e Torero não queríamos
voltar logo para casa e correr o risco de Matias acordar e do desconforto
voltar. Então
percorremos a cidade de carro por algumas horas enquanto ele dormia. Vimos as
decorações
de Natal na Paulista e no Ibirapuera. Passamos em um Drive-Thru e lanchamos ao
som de Marisa Monte, circulando de carro pela Praça Benedito Calixto. Voltamos para casa em plena madrugada.
Nossa balada piorou assim que chegamos.
A febre de Matias bateu nos 40º
C. E, na tentativa de banho para baixá-la, veio o primeiro delírio. Matias ficou branco como papel, falou tudo enrolado e
vomitou.
Pânico. Corremos para o PS. Torero dirigiu como Jason Bourne
em seu pior momento de perseguição.
Às
seis e meia da manhã
da véspera
de Ano Novo, Matias era atendido no hospital e uma batelada de exames começou. Resultado? Uma mega infecção das vias aéreas superiores, mas ainda sem
pneumonia.
Na volta para casa, inalação, soro, antitérmico e o temido antibiótico tiveram que ser administrados.
Há
algumas horas do réveillon,
nós
três
estávamos
um caco. Matias, pelas razões
óbvias.
Eu e Torero pela falta de sono e cansaço.
2015 chegou, e com ele veio outra noite em claro. Matias não conseguia achar posição para dormir e apelamos de novo para a volta de carro. Mais
uma noite adentro pela São
Paulo iluminada. Mais um nascer do sol assistido.
“Tudo
o que você
fizer no primeiro dia do ano novo você continuará
fazendo pelo ano inteiro”.
Se a crença
de minha avó
estiver certa, não
há
dúvidas
do que eu e Torero faremos durante todo o ano: viveremos as aventuras e
desventuras de sermos pais.
P.S: Depois de 15 dias pós antibiótico,
Matias finalmente ficou bem.
Só depois que Matias já estava bem é que conseguimos celebrar nosso ano novo